O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou nesta quinta-feira (3) que o Brasil tomará “todas as medidas cabíveis” contra o tarifaço de Trump, anunciado pelo presidente dos Estados Unidos contra diversos países, incluindo o Brasil. A decisão de Donald Trump de aplicar uma tarifa de 10% sobre todos os produtos brasileiros acendeu o alerta no governo federal, que promete reagir em defesa dos interesses nacionais, das empresas e dos trabalhadores brasileiros.
Durante o evento “Brasil Dando a Volta por Cima”, realizado em Brasília, Lula declarou:
“O Brasil não bate continência para nenhuma outra bandeira que não seja a verde e amarela.”
Entenda o tarifaço de Trump contra o Brasil
Em um discurso altamente nacionalista na Casa Branca, Donald Trump justificou a medida alegando a necessidade de proteger a indústria e os empregos americanos. Com o novo pacote de tarifas, os EUA passam a taxar em 10% todos os produtos vindos do Brasil, mesmo com o país sendo apenas o terceiro mais impactado pela medida, atrás de nações como Israel, Japão e Argentina.
Segundo o governo americano, o objetivo é trazer de volta fábricas para os EUA. No entanto, a medida é vista por analistas e governos estrangeiros como um gesto de protecionismo radical, que ameaça o equilíbrio do comércio internacional.
Veja também: FAZ O L! Venda de veículos novos bate recorde no 1º trimestre de 2025
Bolsonaro vira réu por tentativa de golpe de Estado: entenda o que muda a partir de agora
Imposto de Renda 2025: prazos, tabela atualizada e como fazer a declaração
Lula responde: reciprocidade e defesa da soberania
O governo brasileiro reagiu com firmeza ao tarifaço de Trump. Lula garantiu que o Brasil não aceitará passivamente a decisão e que medidas de reciprocidade econômica estão sendo avaliadas.
Em nota conjunta, os ministérios das Relações Exteriores (MRE) e do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC) afirmaram que o país atuará junto ao setor privado para defender suas exportações, respeitando as regras do comércio multilateral, mas com foco na proteção dos produtores nacionais.
Projeto de Lei da Reciprocidade Econômica avança no Congresso
Como parte da estratégia de reação ao tarifaço de Trump, o Congresso Nacional aprovou o Projeto de Lei da Reciprocidade Econômica (PL 2088/2023), que permite ao Executivo responder a medidas hostis adotadas por países estrangeiros, inclusive com retaliações comerciais.
O projeto já foi aprovado na Câmara dos Deputados e no Senado Federal, aguardando agora sanção presidencial.
Diplomacia em ação: contatos com os EUA já começaram
O chanceler brasileiro Mauro Vieira manteve contato com o Representante de Comércio dos Estados Unidos, Jamieson Greer, para expressar a insatisfação do governo brasileiro e discutir os possíveis impactos das tarifas.
A diplomacia brasileira articula um caminho de negociação, mas não descarta medidas mais duras, caso os EUA não recuem ou ajustem as tarifas.
Brasil pode retaliar nos setores de propriedade intelectual
Especialistas em comércio internacional apontam que o Brasil possui instrumentos legais para reagir ao tarifaço de Trump. Um dos caminhos seria retaliar os EUA em áreas como propriedade intelectual, incluindo:
-
Quebra de patentes
-
Suspensão do pagamento de royalties
-
Limitação de acesso a serviços e marcas norte-americanas
Essas medidas têm base legal dentro da Organização Mundial do Comércio (OMC), e já foram utilizadas por outros países em disputas semelhantes.
Bolsonaro defende Trump e é criticado até por aliados do agronegócio
A resposta do ex-presidente Jair Bolsonaro ao tarifaço foi polêmica. Em postagem feita na plataforma X (antigo Twitter), Bolsonaro celebrou a decisão de Trump como uma resposta ao que chamou de “vírus socialista” no Brasil.
O gesto gerou forte reação de parlamentares, inclusive do agronegócio. A ministra Gleisi Hoffmann, da Secretaria de Relações Institucionais, disse que:
“O Brasil vive um momento raro de unidade nacional contra o tarifaço de Trump. Todos os setores, inclusive o agro, estão juntos. Menos Bolsonaro, que defende os EUA contra o próprio país.”
O deputado Paulo Pimenta (PT-RS) foi mais direto:
“Bolsonaro é patriota de país alheio. Se ainda fosse presidente, talvez sugerisse uma tarifa ainda maior só para agradar o chefe.”
Balança comercial favorece os EUA: Brasil cobra equilíbrio
Apesar da retórica protecionista de Trump, os dados mostram que os Estados Unidos têm ampla vantagem comercial sobre o Brasil. Segundo o próprio governo americano, o superávit dos EUA na balança comercial com o Brasil foi de US$ 28,6 bilhões em 2024, o terceiro maior do mundo.
Esses dados enfraquecem o argumento de que o Brasil representa uma ameaça econômica, reforçando a visão de que o tarifaço tem motivação política e ideológica.
O Brasil sem síndrome de vira-lata
A adoção do tarifaço de Trump coloca o Brasil em posição de alerta, mas o governo Lula deixou claro que não aceitará passivamente ações que prejudiquem sua economia. Com respaldo político, diplomático e legal, o país prepara uma resposta firme, que pode incluir retaliações econômicas, diplomáticas e legislativas.
A postura crítica do governo, o avanço de medidas no Congresso e a articulação internacional mostram que o Brasil está unido em defesa da sua soberania e dos seus interesses comerciais, marcando uma diferença significativa em relação à subserviência adotada durante o governo anterior.